Como vejo dúvidas freqüentes sobre alguns
rituais do culto afro, decidi escrever uma breve explicação de um dos primeiros
rituais que o "novato" no candomblé tem de passar, o Ebori
Antes de tudo, gostaria de esclarecer que o Ebori é um fundamento exclusivo do candomblé. É um rito primitivo oriundo do culto desde a Mãe África.
Para entendermos o que é bori, primeiramente temos que levar em consideração a etiologia da palavra. Bori é uma corruptela de Ebòorí (Ebó= oferenda + Orí=cabeça) que é o ato cerimonial de dar comida à cabeça,um dos primeiros fundamentos que o abiã passa no candomblé e para entendermos o ritual em si temos primeiramente que entender o Orí. O Orí é a base da filosofia de vida para o povo de língua Yorubá. O Orí é um Orixá individual exclusivo, co-existe nos dois mundos (Orun=céu e Aiyê=terra), ele é duplo, compõe-se de duas partes que estão interligadas, o Orí Inú que habita em nossa cabeça física e o Orí Òde que habita no orun. Eles se interligam através de uma canal permanente de energia. Quando tomamos o borí, procuramos dar equilíbrio ao Orí Inú, descansá-lo e também prepará-lo adequadamente para as obrigações de Orixá, como também para prover o equilíbrio, centralizar energias, reorganizar-se de uma maneira geral centralizando as idéias. O Orí é a entidade fundadora de cada personalidade, símbolo arquetipo em potencial que ordena a relação do homem com a sua origem, responsável pela qualidade de vida e longevidade da passagem existencial pela terra. Orí serve apenas a uma pessoa, nenhuma outra divindade poderá contestá-lo, ele é soberano. Tomar Borí é também, estabelecer uma equilíbrio de energia entre seu estado físico e o energético, é criar um fluxo magnético entre o Orí Inú e o Orí Òde e, por consequência, sintonizar-se com seu Orixá, que por sua vez, nos levará a nossa ancestralidade, forças sobre naturais, o clímax, o Axé. O corpo humano é a base do Orí, o seu igbá, o Orí não responde a preceitos, kizilas, ewós, dos orixás, ele é independente e único e tem seus preceitos e culto próprios, detém o livre arbítrio, designado por Olorun para acompanhar o ser humano na sua concepção até a sua morte, nenhum Orixá poderá contestá-lo.
E para que tudo ocorra na mais perfeita consonância de energias, é necessário e importantíssimo que todos estejam concentrados e envolvidos, todos num só pensamento positivo, numa união consentida de entrega e troca de energias. As oferendas serão partilhadas promovendo o concílio de fé, seriedade e irmandade.
Respeita-se o Orí da pessoa que está tomando a obrigação, tal igual fossem as suas, rezas, cantigas entoadas, levam-nos a uma festa prazerosa onde celebramos o Orí.
Tomar um Borí é fortalecer acima de tudo o nosso bem estar pessoal e energético